terça-feira, 26 de maio de 2015

19, um primo, distraído, na aritmética da vida

Inexoravelmente, enquanto me ocupo da redação do pequeno texto, agora, partilhado, o tempo, o meu tempo, graciosamente doado, legado, adicionado a uma soma de aferição difícil, de finitude axiomática ou, de infinitude dogmática, vai sendo consumido, à imagem do oxigénio, fonte de energia e de vida, celular, pluricelular, complexa, humana, que, concomitantemente inspiro, consumo, transformo num metabolismo tão assintomático quanto a álgebra do tempo.
Distraído, não equaciono as variáveis enunciadas, traduzidas pelo volume de oxigénio consumido por unidade de tempo, porquanto parecem não importar, como se fossem extrínsecas à vida, ao tempo, ao teorema da existência, de demonstração e aplicação complexas.
Vivo, sobrevivo, alheado, afastado, distante do que é importante, determinante, fundamental, vital.
Distraído, continuo o caminho, acreditando que a vida, se regulará por si, onde o eu, não se distinguirá de uma realidade metafísica, ontológica, concebida como tendo uma natureza comum, inerente à condição de ser, enquanto ser, independente de mim.
Distraído, distancio-me, num afastamento contínuo, do que importa, do que alicerça a individualidade, a vontade, a razão, de ser, de sentir, de ganhar e de perder, corolários óbvios do que significa viver.
Será o fado, o meu fado, o destino, que me traz à memória a importância da décima nona letra do alfabeto, alicerce da tantas vezes cantada, traduzida, vivida convicção de que o tempo, não obstante adicionado, pode ser apenas, passado.

Prosa à Saudade.


Sem comentários:

Enviar um comentário